Olha… Será que ela é moça? Será que é de éter? Será que é loucura?Será que ela mora num arranha céu? E se eu pudesse entrar na sua vida…
A moça não chamava Beatriz desde todo sempre. Chico resolveu chamá-la assim já homem formado. A menina parece que chamava Bibi quando a outra tinha lá suas sete primaveras. A Bibi tinha a vida muito limitada. Ela esperava o príncipe encantado, tinha que se maquiar para esperá-lo em seu vestido rosa com sandália de cristal. Bibi não precisava pensar em nada. Sua dona fazia-lhe os movimentos e sonhos.
Bibi se foi em fins dos anos doces infantis. Para não entristecer, dona pegou emprestada a vida de bonecos que andavam por si só. Pessoas que falavam como ela. De posse de papel e caneta tramou seus possíveis movimentos. Quem será aquele lá? Aquela criatura que me esperta curiosidade e afeto. No que pensa? Faz tudo o que pensa? Pensa no que faz? Gosta de rosas vermelhas mesmo ou diz que gosta porque fica romântico? Toma café puro pra não topar com o açúcar ou precisa sentir o aroma do café puro? Cozinha maravilhas para si ou sempre fica a espera do outro para inspirar um molho dos deuses? Prefere roça à Provence? Mas se o vinho for branco gelado com trufas brancas numa casa no campo nada mal? Arranha
cantarolar Tudo é divino maravilhoso quando põe o dedão na cachoeira as sete da matina, todos dormindo, menos os pássaros e borboletas?
O dedo molha e dona acorda. Bibi, hoje Beatriz, não está num arranha céu, na Provence, nem na casa de campo. Está ali, ali, ali numa das esquinas da sua vida. Uma vida que ela nada disse a respeito. Ninguém perguntou. Criou.
Dia desses alguém soprou no tímpano da tal que não pediu licença para inventar a vida dos outros: “você se apaixona pelo amor. Beatriz faz só cócegas pro amor surgir. O amor é a coceirinha que faz criar, brilhar, inventar, saber quem se é pela palavra bem, quista, bendita, bem lavada”.
Deixou Beatriz em paz. Tampou a caneta e saiu feliz. Sergio, nome ouvido para chamar o moço do posto de gasolina da esquina já lhe interessava mais.
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